28 de janeiro de 2011

O Meio Ambiente do Ser Humano

Tanto aos que acham que o Brasil deve se livrar das amarras e limites espúrios ao desenvolvimento econômico do país; e aos que incansavelmente se dedicam à salvação do planeta Terra, em defesa de um ecossistema pristino e intocável;

Busco trazer algumas luzes sobre quem passou a última década ouvindo discursos e idéias, e estudou textos científicos, disciplinas, pesquisas e livros sobre o assunto...

Faz-se mister colocar que, caso chegue-se em um consenso, é dever de todo e qualquer cidadão abdicar de qualquer controvérsia científica ou mesmo ‘humanista’ de defesa do meio ambiente. Já explico. Se vivemos uma sociedade super-especializada, que vem caminhando desde a Revolução Industrial, e hoje entendemos, ou pelo menos acreditamos, que seja o ápice da estruturação da sociedade, não haveria como existir contradição com o processo de redução da importância ambiental. Porque o fundamento da sociedade atual é o de que sempre haverão evoluções tecnológicas ligadas à recuperação ou superação de problemas.

As leis econômicas, mais ou menos universais, como oferta e demanda, curvas de produtividade ótima, entre outras, colocam que tudo é uma conseqüência em maior ou menor grau da competitividade entre entes privados, entre nações, e mesmo entre indivíduos dentro de um mesmo sistema. O sistema econômico em que vivemos (repito: o capitalista), para o bem e para o mal, funciona assim.

Não é importante em que parte de uma cadeia o indivíduo esteja: é importante se ele tem o esclarecimento de que esta posição é relevante e necessária. Dentro das ‘classes’ de indivíduos, sejam elas dividida por grau econômico (ou poder aquisitivo), ou por grau de instrução, ou por gênero, idade, etnia, entre outras, existem indivíduos, pessoas mesmo, que têm anseios, desejos, vontades. Direitos e, pressionado pela sociedade, deveres. E são estes indivíduos, que dentro de uma escolha lúcida e imparcial, optam se querem manter este meio de vida. Ou não, dependendo do sistema político em que se encontra o indivíduo.

O indivíduo quer ter, ou ao menos ter o desejo de ter, quaisquer comodidades ou ‘produtos’ que possa ter acesso. Desde uma viagem à Disney, passando pelo carro zero, pelo vinho fino importado, até os chinelos da marca que ele convém ser melhores, baseando-se no consumo de mídias, seja televisão ou internet. Este desejo, esta vontade de ter algo que ele julga necessário para sua sobrevivência, é a chave da questão ambiental atual. Porque na verdade, ele só consegue suprir este desejo DENTRO do sistema atual capitalista, para o bom e para o mau.

Não existe outra maneira de raciocinar, sem levarmos em conta o todo. Os processos que tentam vir pelas mesmas mídias, continuam sendo falhos no princípio. Se quisermos que todos os cidadãos tenham em suas casas lições virtuais sobre a importância do meio ambiente, sobre a reciclagem, sobre a poluição das águas do mar e dos rios e nascentes, pensaríamos em princípio que seria melhor se todos os indivíduos (todos os sete bilhões e tantos deles) tivessem acesso à internet, banda larga, computadores e televisores. Ora, se todos os indivíduos tiverem a oportunidade instantânea de acesso a isto, sabe-se que seriam necessários vários milhões de computadores, televisores, outros aparelhos eletrônicos. E o que quase a totalidade dos indivíduos ‘se esquecem’, é que estes precisam de toda uma cadeia produtiva que gera milhões (eu disse milhões) de quilos de poluentes de metais pesados, como cádmio, cobalto, chumbo, entre outros elementos de nomes curiosos da tabela periódica. E que a ciência atual, derivada dos processos de inúmeras cadeias produtivas de conhecimentos e aparelhos (produtos), sabe que podem ser responsáveis por um sem número de complicações ambientais, sanitárias e mesmo físicas.

Este é um pequeno encadeamento de raciocínio, bem fantasioso e de exemplo, que pode ser expandido para diversas áreas. Os Defensores da Terra, os ambientalistas e ecologistas, podem pensar que estou sendo cínico e parcial, mas em realidade, convivendo com ambos os lados ideológicos e posicionais dos indivíduos, eu estou meramente observando fatos. Estes fatos, ao se desenrolarem de maneira mais minuciosa e crítica, podem gerar um enorme desconforto. Afinal, o barco dos ativistas que zarpam heroicamente para defender pobres baleias indefesas (o que realmente é um absurdo do ponto de vista econômico: os custos de oportunidade da exploração comercial das baleias e seus subprodutos, me parecem muito baixos para se dar ao trabalho de fazê-lo) dificilmente seria à vela – aparentemente é movido à combustível fóssil. Ainda que fosse algum tipo de biodiesel, que no processo de elaboração gera algum resíduo, temos o casco, os impermeabilizantes utilizados, os equipamentos eletrônicos de navegação, enfim, vários outros produtos e componentes que demandam processos que, muitas vezes, são realizados fora de padrões de qualidade ambiental, e que mesmo estes padrões, não impedem poluição de algum grau à alguma parte do globo.

Não penso que seria de bom grado que um ativista ‘verde’, na frente de seu computador ou laptop, tomando um suco ‘natural’ embalado em Tetra-Pak (ah, foi só em um dia que ele não teve tempo de ir ao mercado de orgânicos, comprar uma laranja certificada como orgânica, para fazer um suco no espremedor de bambu orgânico...), conversando ao celular com outros colegas, saberia que seu impacto (ou pegada) no planeta pode ser maior que o que ele julga, mesmo sendo fiel utilizador de transporte coletivo ou bicicleta, se lavando com sabões feitos de cinzas aproveitadas da lenha (não de mogno, ou de imbuia, mas de eucalipto plantado certificado, embora o eucalipto seja um vilão responsável pela destruição do meio ambiente e etc.) usada para assar suas massas e pães integrais caseiras. Parece puro cinismo, mas o ponto é que neste ritmo, os ambientalistas mais ‘radicais’ apenas estarão adiando o inevitável – o inevitável é que as forças de mercado são mais espertas, e adiantando-se a possíveis desvios, já estão criando um NICHO DE MERCADO.

Em breve, ser ambientalista nada mais vai significar que ser pertencente á um nicho de mercado, com todo um aparato econômico pronto para atender as suas novas necessidades de consumo CONSCIENTE. Toda uma rede de produção se prepara para repassar os maiores custos, devido à restrição de uso de certos insumos agrícolas ou industriais, aos preços dos produtos e serviços, e alguns processos tendem a agrupar até mesmo produtores artesanais, no melhor estilo capitalista de resolver problemas. Se levarmos em conta as desigualdades sociais constantes à sociedade desde tempos imemoriais, desde quando se liam tábuas de argila em Ur, podemos calcular que mesmo que houvesse uma migração massiva de consumidores para este setor, ele seria ainda enormemente desproporcional à condição atual das camadas ‘menos favorecidas’ da população. 

E ainda temos o fator livre arbítrio, no qual vemos como exemplo os ‘churrasqueiros de domingo’: verdadeiros assassinos de bichos, que se vangloriam de comer a carne de animais produzidos em escala, em regimes de pecuária extensiva ou intensiva, mortos em matadouros tétricos, e cruelmente dilacerados em açougues, serão ‘do contra’, e objetivamente lutarão pelos seus direitos adquiridos desde os tempos dos sacrifícios do povo de Abraão, no qual comer carne do seu rebanho é um direito, senão divino, constitucional. E, como sabemos, toda a cadeia produtiva desde o nascimento do bezerrinho até a embalagem da carne em plásticos não-biodegradáveis continuará em muitas esquinas, em muitos mercados, por muito tempo. E na maioria das vezes, muito pouco ou nem um pouco ecológica ou consciente.

E isto é até uma visão extremamente positivista e otimista dentro dos padrões colocados. Não penso que seria assim no futuro, pois em verdade já o é em vários países, nos quais os ‘verdes’ são obrigados à convivência ‘quase pacífica’ com os ‘vermelhos’, ou ‘azuis’, ou ‘laranjas’ mesmo. Tal qual torcidas de futebol, haverá a necessidade premente de se relembrarem das Declarações Universais dos Direitos Humanos. 

Não existe hoje uma prova contrária à teoria de que, da maneira como desenham-se as linhas do horizonte, o futuro próximo está numa sectarização do mercado, que será extremamente frágil e dependente de outros processos, como as situações macroeconômicas de alguns países, e microeconômicas de algumas commodities ou produtos industriais. Os processos que vêm desde a tecnologia intensiva verde, como a produção de energia eólica e solar, a conversão de combustíveis fósseis para de biomassa, até a produção de detergentes altamente biodegradáveis, passa por todo um processo capitalista que, em última instância, depende de fatores de produção alheios às conseqüências ambientais de médio e longo prazo. E estes processos e fatores de produção, inexoravelmente, produzirão poluentes, seguirão com o consumo de matérias primais não renováveis, e podem levar em maior ou menor escala de tempo, a crises como a do vazamento de petróleo no Golfo do México, a contaminação do Aqüífero Guarani, entre outras crises que hoje, pela internet e televisão, podem ser acompanhados praticamente vinte e quatro horas por dia.

A palavra capitalista aqui aparece demasiado: mas assim o é. A questão ambiental é intrínsecamente ligada ao ser humano, e este é um animal econômico, mais que ecológico. 'Logia', de entendimento, cede lugar ao 'nomia' de organização e categorização. Jamais será possível realizarmos qualquer tipo de solução ou decisão a respeito do Meio Ambiente, se esquecermos que é o Meio Ambiente do Ser Humano. E somos apenas nós, habitantes 'conscientes' do pequeno planetinha azul, ou Planeta Terra, que temos a ganhar ou a perder com esta questão.

Posteriormente, elucidarei melhor o que quero dizer com isto... fica pra próxima!



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